Hemoparasitoses em Cães
Produtos Relacionados
Há um crescente aumento das doenças transmitidas por carrapatos para os cães em áreas urbanas e rurais no Brasil e algumas delas com grande importância para a saúde pública.
Apesar dos avanços nas pesquisas para o diagnóstico destas enfermidades nos últimos anos, as hemoparasitoses ainda são um grande desafio, já que existem limitações para o diagnóstico preciso de muitas delas cujas manifestações clínicas e laboratoriais são muito semelhantes entre si e com outras enfermidades não infecciosas.
Paralelamente, há novos hemoparasitas que acometem os cães no Brasil e que têm sido documentados, que vão além das clássicas erliquiose e babesiose, o que dificulta ainda mais o diagnóstico preciso de algumas enfermidades.
Desta forma, esta revisão tem como objetivo auxiliar os médicos-veterinários no diagnóstico das principais doenças transmitidas por carrapatos documentadas no Brasil, baseado em um levantamento literário com enfoque nas manifestações clínicas, testes laboratoriais e tratamento.
Erliquiose
A erliquiose é um grupo de doenças transmitidas por carrapatos causadas por uma bactéria intracelular, gram negativa que inclui a Ehrlichia canis (E. canis), Ehrlichia ewingii e a Ehrlichia chaffeensis. Entretanto, a infecção por E. canis é uma das mais importantes hemoparasitoses dos cães domésticos, parasitando células mononucleares, e denominada de erliquiose monocítica canina (EMC).
Embora o principal transmissor seja o carrapato do cão (Rhipicephalus sanguineus), a E. canis já foi identificada em outras espécies de carrapatos. Há a possibilidade, também, de ser transmitida por transfusão sanguínea. Todas as raças são propensas à infecção pela EMC, mas o PastorAlemão e Husky Siberiano têm a predisposição de desenvolver a forma mais grave da doença, com pior prognóstico.
A enfermidade é dividida em 3 fases: assintomática (subclínica), aguda e crônica. O microrganismo se multiplica por fissão binária dentro de vacúolos de mononucleares. Os mecanismos imunomediados são importantes na fisiopatogenia da doença.
As manifestações clínicas variam de acordo com as fases: na fase aguda, os cães infectados podem se recuperar de forma espontânea e entram numa fase denominada assintomática (subclínica). Nessa fase, o animal permanece infectado por um longo período ou elimina o parasita, caso seja imunocompetente, ou ainda pode desenvolver a fase crônica.
O início da fase aguda ocorre de 1 a 3 semanas após a infecção e dura de 2 a 4 semanas. As células mononucleares infectadas ficam na margem de pequenos vasos e podem também migrar para o interior de tecidos endoteliais induzindo a vasculite. A trombocitopenia não é grave o suficiente para provocar sangramento espontâneo na fase aguda, porém associada à vasculite e diminuição da função plaquetária pode ocasionar tal manifestação.
A infecção por E. canis é uma das mais importantes hemoparasitoses dos cães domésticos. A doença pode se manifestar, de acordo com a fase da doença (subclínica, aguda ou crônica), com sintomas clássicos como febre, letargia, epistaxe e petéquias até sintomas graves e inespecíficos como alterações articulares, uveíte e aqueles relacionados à hipoplasia medular como mucosas pálidas e infecções secundárias recorrentes.
O quadro clínico da erliquiose canina é caracterizado por letargia, perda de peso e anorexia, se presente. O quadro hemorrágico se manifesta na derme por petéquias, equimoses ou ambos. O sangramento mais frequente é a epistaxe. Podem ocorrer ainda poliartrite e alterações neurológicas como convulsão e ataxia. Sinais oculares como uveíte e opacidade corneana não são incomuns, podendo evoluir para cegueira. Infestação por carrapatos e febre são evidentes normalmente na fase aguda.
A multiplicação de E. canis em células mononucleares circulantes, no fígado, no baço e nos linfonodos induzem a linfadenomegalia e esplenomegalia caracterizando a fase crônica da enfermidade. O emagrecimento é um achado adicional nesses casos. A supressão da eritropoiese na medula óssea pode ser um dos mecanismos responsáveis pela anemia.
Já a trombocitopenia na infecção por E. canis envolve vários fatores como a destruição e o consumo de plaquetas, o sequestro de plaquetas pelo baço, a diminuição na produção devido a hipoplasia de medula óssea e a produção de anticorpos antiplaquetários. Devido ao desenvolvimento da pancitopenia na fase crônica, o animal pode apresentar mucosas pálidas.
Polidipsia e poliúria podem aparecer em alguns cães devido à glomerulonefrite por deposição de imunocomplexos. Há evidência também de que a doença seja um fator de risco para lesões miocárdicas. A hipótese foi sugerida devido ao alto nível de troponina detectada em um cão com erliquiose aguda.
Alguns indivíduos podem apresentar tosse ou dispneia por edema intersticial ou alveolar secundário a vasculite, hemorragia pulmonar parenquimal ou ainda infecções secundárias decorrentes da neutropenia.
Os achados laboratoriais da EMC são variáveis e inespecíficos, o que pode tornar seu diagnóstico desafiador. A trombocitopenia é a principal alteração hematológica, independente da fase da doença, e os cães tendem a apresentar episódios de sangramentos também em decorrência da diminuição da função plaquetária. A trombocitopenia pode ocorrer devido a quadros de vasculites, destruição imunomediada e sequestro pelo baço.
Anormalidades dos leucócitos podem coincidir com respostas inflamatórias simultâneas, estimulação antigênica e estresse. A neutropenia é a principal alteração leucocitária encontrada nos cães infectados por EMC e ocorre devido ao quadro de vasculite na fase aguda ou na fase crônica devido à supressão da medula óssea.
A leucocitose também pode ocorrer, apesar de ser pouco descrita. A estimulação crônica do sistema imunológico pode causar quadros de linfocitose e monocitose. Em cães infectados naturalmente, pode ocorrer leucocitose por neutrofilia devido a processos inflamatórios e/ou processos infecciosos simultâneos à infecção por E. canis. A virulência da cepa também pode desencadear um processo de neutrofilia, podendo ocorrer desvios à esquerda leves e/ou transitórios.
Na fase aguda, apesar de ocorrer anemia não regenerativa, os valores do hematócrito tendem a voltar ao normal dentro de poucas semanas após início do tratamento. A infecção por Ehrlichia canis está relacionada a uma alta prevalência de anemia hemolítica imunomediada com intensa anemia regenerativa em áreas consideradas endêmicas. O quadro de anemia regenerativa também pode ser observado durante a fase aguda ou crônica devido às perdas sanguíneas pela trombocitopenia grave concomitante. A anemia não regenerativa acontece na fase crônica da doença e é causada pela supressão da medula óssea.
A fase crônica é caracterizada por pancitopenia (anemia, neutropenia e trombocitopenia) devido à supressão da medula óssea associada à hipoplasia de medula, anemia grave e sangramentos, com uma alta taxa de mortalidade. Animais pancitopênicos tendem a ser mais susceptíveis às infecções secundárias (Figura 1).
Figura 1: Infecção bacteriana cutânea com sufusões em um cão com pancitopenia secundária à aplasia de medula óssea por erliquiose (arquivo pessoal)
As anormalidades bioquímicas mais comuns na erliquiose crônica incluem hipoalbuminemia, hiperglobulinemia e elevação de ALT e FA.
O diagnóstico da EMC constitui um desafio devido às diferentes fases de infecção e à variedade de manifestações clinicas. O conhecimento do comportamento do agente e da sensibilidade e especificidade de cada exame, bem como saber a fase de evolução clínica da doença, são importantes no momento de escolha do método diagnóstico (Quadro 1).
A detecção da mórula em esfregaço de sangue periférico possui baixa sensibilidade principalmente na fase crônica da doença. As mórulas podem ser confundidas com plaquetas, grânulos citoplasmáticos, material nuclear fagocitado e corpúsculos linfoglandulares.
Os testes sorológicos são muito utilizados na rotina clínica para o diagnóstico de EMC como o ELISA (ensaio de imunoabsorção enzimática) e a reação de imunofluorescência indireta (RIFI).
Cães com erliquiose aguda podem ter resultados falso-negativos se não houver tempo suficiente para produção de anticorpos. Um resultado positivo nestes testes pode indicar infecção presente ou exposição prévia ao agente. Os títulos de anticorpos podem persistir por até 6 a 9 meses após o tratamento para infecção por E. canis.
A RIFI é considerada o teste padrão ouro para o diagnóstico de EMC, já que os anticorpos podem ser detectados entre 7 e 28 dias após o início da infecção. A RIFI fornece títulos quantitativos, ou seja, altos ou baixos positivos. Sugere-se que em animais, com suspeita de EMC, se realize a RIFI no mínimo duas vezes no intervalo de 2 a 4 semanas, para se avaliar a cinética dos anticorpos e identificar a fase da doença.
De maneira geral, a associação de resultados positivos com as manifestações clínicas e laboratoriais compatíveis concluem o diagnóstico de erliquiose. Esse teste é considerado de eleição em animais suspeitos em fase assintomática ou crônica.
O diagnóstico da EMC constitui um desafio ao médico-veterinário. O conhecimento da sensibilidade e especificidade de cada exame, bem como determinar a fase de evolução da doença, são fundamentais para a escolha do método diagnóstico.
Entretanto, a soroconversão pode não ocorrer na fase crônica da doença. Títulos altos não estão correlacionados com a gravidade ou duração da enfermidade. A RIFI é importante para o monitoramento da terapia da EMC. O declínio de anticorpos pode ocorrer rapidamente, tornando o cão negativo 6 a 9 meses após o tratamento.
A persistência de altos títulos ou valores parecidos no momento do diagnóstico indica persistência da infecção, mesmo o exame molecular apontando negativo. A reinfecção é caracterizada por uma rápida ascensão de anticorpos.
Já o outro método sorológico para diagnóstico da EMC, o ELISA, é um teste que pode ser facilmente empregado na rotina de hospitais e clínicas veterinárias e está disponível comercialmente como teste rápido “Snap”. O teste comercial tem elevada especificidade, porém o baixo nível de anticorpos no início da infecção é o que desafia essa técnica, além de ser um teste qualitativo e não quantitativo.
Resultados negativos devem ser interpretados com cautela, já que em estudos comparativos foi demonstrado que as detecções de animais positivos ocorrem em titulações próximas de 1:320, ou seja, os animais positivos com titulações de anticorpos inferiores a esta poderão não ser detectados por esse teste (resultado falso-negativo).
Nestes casos, recomenda-se repetir o teste em 1-2 semanas. Mesmo com a combinação da elevada especificidade e rapidez, não se distingue a exposição ao agente da infecção ativa. O teste geralmente é usado como triagem em animais suspeitos e o teste negativo não exclui totalmente a erliquiose.
A PCR (reação em cadeia da polimerase) do sangue total é mais sensível para diagnóstico de infecção aguda por E. canis que o ELISA e o RIFI. Resultados positivos surgem dentro de 4 a 10 dias da exposição ao agente. A sensibilidade da PCR do sangue total para o diagnóstico da EMC na fase crônica é baixa uma vez que a medula óssea e o baço podem sequestrar E. canis podendo ocorrer resultados falso-negativos nesta fase. Então, recomenda-se associar os métodos sorológicos à PCR para o diagnóstico da fase crônica da enfermidade.
O método de PCR é sensível e específico, embora tenha a possibilidade de ocorrer falso-positivo por amostras contaminadas. Mesmo assim, é um meio confiável para a confirmação de uma infecção por Ehrlichia sp. Uma limitação é a falta de material genético na amostra para a amplificação do DNA do patógeno ocorrendo assim um falso-negativo.
A PCR real time (em tempo real) é um exame mais sensível e menos propenso à contaminação, além de fornecer um resultado quantitativo. É um meio sensível de rastrear a infecção.
Em resumo, diante das limitações de cada teste e das particularidades relacionadas ao microrganismo em si, indica-se a combinação de sorologia e PCR como exames complementares correlacionando com as alterações clínicas e laboratoriais para a conclusão de um diagnóstico de erliquiose monocítica canina.
Quadro 1: Exames disponíveis para diagnóstico de erliquiose monocítica canina em cães
De acordo com o grupo de estudo de doenças infecciosas do Colégio Americano de Medicina Veterinária Interna, o ACVIM (American College of Veterinary Internal Medicine), as drogas sugeridas e eficazes no tratamento da erliquiose são tetraciclina, cloranfenicol e oxitetraciclina, sendo a doxiciclina o tratamento de eleição (5 mg/kg/ BID ou 10 mg/kg/SID) por pelo menos 28 dias podendo se estender por 6 a 8 semanas.
A melhora clínica com a doxiciclina é obtida na maioria dos casos, entretanto é difícil garantir a eficácia do tratamento na eliminação da Ehrlichia sp em cães naturalmente infectados, podendo ocorrer recidivas do quadro. Um dos efeitos colaterais mais comuns relacionados ao uso da doxiciclina são os vômitos, que podem ser minimizados ou eliminados fracionando a dose para 5 mg/kg/BID, administrados após o alimento.
Os resultados com o diproprionato de imidocarb (5 mg/kg, duas doses, com intervalo de 15 dias) são controversos entre os estudos em relação à eficácia como única droga no tratamento da EMC com resultados favoráveis em alguns estudos mas com ineficácia em outros.
O cloranfenicol (15 a 20 mg/kg/TID) pode ser administrado como segunda opção, em caso de resistência da doxiciclina e em casos de vômitos e complicações gástricas causadas pela doxiciclina. Em caso de aplasia de medula, esse fármaco deve ser evitado. O uso da enrofloxacina foi ineficaz na infecção experimental por E. canis.
A resolução da trombocitopenia geralmente é indicativa de boa resposta ao tratamento. Caso a contagem de plaquetas não aumente em sete dias de tratamento, podem estar presentes uma destruição imunomediada de plaquetas ou coinfecção por Babesia ou Anaplasma platys. Reinfecção e recidiva da enfermidade são comuns, assim, estes cães precisam ser monitorados a cada 3 meses após a normalização clínica e laboratorial.
Anaplasmose
A anaplasmose canina é causada pela Anaplasma platys (A. platys) ou Anaplasma phagocytophilum (A. phagocytophilum) que são bactérias intracelulares gram negativas, pertencentes à família Anaplasmataceae.
Anaplasma platys
No Brasil, o agente mais comum é a A. platys que é transmitida provavelmente pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus. Podem ocorrer coinfecções com E. canis e Babesia canis, que são transmitidas pelo mesmo vetor.
A A. platys infecta plaquetas, sendo a doença denominada de trombocitopenia cíclica canina. O período de incubação é de 1 a 2 semanas. Após este período, o cão pode apresentar trombocitopenia cíclica com febre alternando com períodos de melhoria e normalização a cada 1-2 semanas caracterizando a infecção aguda.
A infecção crônica é associada à baixa bacteremia com trombocitopenia discreta. O mecanismo da trombocitopenia é desconhecido, mas acreditase que seja dano direto às plaquetas, sequestro de plaquetas pelo baço e destruição imunomediada plaquetária.
A anaplasmose canina é causada pela Anaplasma spp. No Brasil, o agente mais comum é a A. platys, que é um agente que infecta plaquetas e leva a um quadro conhecido como trombocitopenia cíclica canina. Já a A. phagocytophilum, menos comum no país, infecta granulócitos e, por este motivo, a detecção de mórulas dentro de granulócitos no esfregaço sanguíneo não pode ser distinguida da Ehrlichia ewingii, que também infecta estas células.
Normalmente, a infecção por A. platys causa apenas trombocitopenia acompanhada ou não de sinais como anorexia, letargia, perda de peso ou depressão. Há relatos de outras manifestações clínicas como febre, letargia, linfoadenopatia, uveíte, mucosas pálidas ou hemorrágicas que podem estar associadas com outras hemoparasitoses não investigadas.
As alterações laboratoriais encontradas são trombocitopenia, anemia normocítica leve a moderada não regenerativa, hiperglobulinemia e hipoalbuminemia. Quadros de anemia são mais graves na coinfecção de A. platys com E. canis.
O diagnóstico é baseado na detecção de mórulas de A. platys em plaquetas do sangue total ou de papa de leucócitos. Porém, a sensibilidade é baixa, já que a parasitemia, além de cíclica, pode cursar com baixo número, nem sempre sendo possível a identificação das células parasitadas. Também é importante diferenciar o parasita de inclusões plaquetárias como núcleos remanescentes de megacariócitos ou granulações.
O método sorológico é muito utilizado para o diagnóstico de A. platys, porém não distingue a infecção presente de uma exposição prévia. Ocorre uma reação cruzada entre os anticorpos de A. phagocytophilum com antígenos A. platys, logo um resultado sorológico positivo não diferencia os dois agentes, precisando complementar com a PCR específica para cada agente.
O kit sorológico comercial ELISA qualitativo do laboratório IDDEXX é de fácil manuseio e custo acessível sendo o mais comumente utilizado. Cães com infecções recentes podem ser falso negativos, pois os anticorpos para A. platys não são detectáveis após 1 ou 2 semanas após o início da infecção.
Um resultado sorológico positivo, em uma área com prevalência da enfermidade, associado às manifestações clínicas e trombocitopenia pode indicar infecção por A. platys. A sorologia pela técnica RIFI não é muito útil para este agente, pois ocorrem reações cruzadas com outros agentes da mesma família.
A PCR, dentre todas as técnicas de diagnóstico direto, é a mais sensível para diagnóstico da A. platys. Entretanto, os resultados falsos-negativos ocorrem mesmo com esta técnica devido à ausência de patógenos na amostra enviada, ainda mais nos casos de infeção por A. platys em que a bacteremia é intermitente.
Desta forma, assim como na erliquiose, não existe um único método laboratorial para o diagnóstico definitivo da enfermidade, uma vez que cada um deles tem suas limitações, de acordo com a fase da infecção pela A. platys.
O tratamento de eleição para A. platys é a doxiciclina (5 mg/kg/BID ou 10 mg/kg/SID) cujo período não é totalmente definido pela literatura, variando de 8 a 10 dias (Consenso Europeu), podendo se estender por 28 dias por ser comum a coinfecção com E. canis.
Anaplasma phagocytophilum
Apesar de menos comum no Brasil, os casos de infecções por A. phagocytophilum estão sendo documentados em algumas regiões. Ressalta-se a importância da identificação deste patógeno em circulação nacional por ser um agente zoonótico responsável pela anaplasmose granulocítica humana.
O A. phagocytophilum é o agente causador da anaplasmose granulocítica em cães, humanos, cavalos e na Europa em ruminantes domésticos. Gatos também podem ser afetados. A espécie A. phagocytophilum infecta granulócitos, principalmente neutrófilos onde se reproduz formando pequenas colônias chamadas de mórulas.
Esta riquétsia é transmitida por uma espécie de carrapato que pertence ao complexo Ixodes scapularis. Entretanto no Brasil foi identificada uma possibilidade de transmissão pelo Rhipicephalus sanguineus e Amblyomma cajennense.
As manifestações clínicas mais comuns são inespecíficas como letargia, inapetência, anorexia e febre. Outros sinais e sintomas incluem mucosas pálidas e gastrintestinais (emese, diarreia). Há relatos de claudicação por deposição de imunocomplexos em articulações. Linfoadenopatia, taquipneia e sangramentos também podem ocorrer (petéquias, equimoses e epistaxe) e a esplenomegalia é um achado muito comum.
As alterações laboratoriais mais comuns são trombocitopenia leve a moderada, embora outras citopenias possam ocorrer. Os mecanismos destas alterações hematológicas não são totalmente elucidados. A hipótese é o envolvimento de mecanismos imunomediados. Em um estudo brasileiro, observou-se trombocitopenia, linfopenia e aumento do volume plaquetário. Anemia não regenerativa, neutropenia, hiperglobulinemia e hipoalbuminemia também são documentados.
O diagnóstico é baseado na detecção de mórulas dentro de granulócitos no esfregaço sanguíneo, entretanto não podem ser distinguidas da Ehrlichia ewingii, que também pode infectar estas células. As mórulas podem ser confundidas com grânulos citoplasmáticos ou corantes precipitados. A sorologia por RIFI é um método que pode ser utilizado para o diagnóstico e que cujos resultados positivos não conseguem distinguir exposição prévia ao agente de infecção ativa.
Também pode ocorrer em resultado negativo em infecções agudas. As mesmas colocações são válidas para a sorologia por ELISA, que é o método rápido, já discutido anteriormente. Reações cruzadas ocorrem com outras espécies de Anaplasma sp para ambas as técnicas. A técnica de PCR é específica e sensível para o diagnóstico da infecção aguda da enfermidade.
O tratamento de escolha para anaplasmose granulocítica em cães é a doxiciclina (5 mg/ kg/BID ou 10 mg/kg/SID) por 14 dias 18 a 21 dias, porém o período de tratamento não está totalmente estabelecido. O prognóstico é ótimo, a maioria dos cães melhoram os sintomas em 24 a 48 horas.
Babesiose Canina
A babesiose canina é uma das mais importantes infecções que acomete os cães causada por hemoprotozoários (protozoários que se reproduzem dentro de hemácias) do gênero Babesia, destacando-se a Babesia canis e Babesia gibsoni como principais espécies envolvidas em casos diagnosticados no Brasil.
Os carrapatos da espécie Rhipicephalus sanguineus são os principais transmissores, mas experimentalmente os carrapatos da espécie Dermacentor também já foram implicados na infecção de cães. Também há a possiblidade de transmissão via transfusão sanguínea.
A Babesia ocasiona uma lise das hemácias ocasionada por uma multiplicação do parasita no interior dos eritrócitos causando seu rompimento. A babesiose pode se manifestar como uma doença branda ou complicada na dependência da cepa infectante e da imunocompetência do hospedeiro.
A babesiose pode se manifestar de forma hiperaguda, aguda ou crônica. Muitos animais podem permanecer assintomáticos. Os sinais e sinto mas da fase hiperaguda são acidose metabólica, síndrome da resposta inflamatória sistêmica e estase vascular.
A fase aguda é caracterizada por anemia hemolítica, febre, trombocitopenia, esplenomegalia, emese e icterícia (nem sempre presente). Na fase crônica, o cão pode apresentar febre intermitente, hiporexia ou anorexia, perda de peso, linfoadenopatia e esplenomegalia.
A babesiose canina é a infecção causada por hemoprotozoário mais importante em cães. As espécies B. canis e B. gibsoni são as espécies mais reportadas no Brasil. A doença pode se manifestar de forma branda ou complicada na dependência da cepa infectante e da imunocompetência do hospedeiro. Anemia hemolítica, febre, trombocitopenia, esplenomegalia, êmese e icterícia são as manifestações mais comuns na fase aguda da doença.
Em casos de infecções concomitantes com E. canis, o cão demonstra uma grave anemia normocítica normocrômica causada pela destruição dos eritrócitos maduros com impedimento da eritropoiese, desenvolvendo uma doença muito grave, muitas vezes fatal, principalmente em cães mais jovens.
Trombocitopenia é uma alteração laboratorial comum consequente da destruição imunomediada ou consumo em casos de coagulação intravascular disseminada (CID). Anemia discreta arregenerativa é notada nos primeiros dias da infecção podendo evoluir para macrocítica e hipocrômica regenerativa com a evolução da doença.
Alterações leucocitárias são incomuns, mas podem ocorrer leucocitose (com ou sem desvio à esquerda), leucopenia, neutrofilia, neutropenia, linfocitose e/ou eosinofilia. Hepatopatia com elevação de enzimas hepáticas geralmente deve-se às injúrias secundárias à hipóxia ou inflamação.
O diagnóstico é baseado na identificação do protozoário no interior nas hemácias através do esfregaço sanguíneo em lâmina que, apesar de possível, nem sempre é viável, principalmente em infecções pela B. canis que cursam com parasitemias mais baixas.
A coleta de sangue de capilares de extremidades, como ponta de orelha, pode aumentar as chances de encontrar as células parasitadas. O diagnóstico sorológico com a RIFI é considerado com boa especificidade, mas pode haver reação cruzada entre B. canis e B. gibsoni.
A sensibilidade é grande, sendo capaz de detectar títulos maiores ou iguais a 1:80. O teste de ELISA não está disponível. A sorologia pode revelar resultados negativos na fase aguda da doença. A PCR é o método mais sensível e específico para detecção de infecção aguda por Babesia spp.
Quanto à sensibilidade, valem as mesmas considerações citadas para as outras hemoparasitoses, ou seja, resultados negativos não excluem uma infecção devido à ausência do material genético do microrganismo na amostra, principalmente na fase crônica da enfermidade. A PCR para Babesia spp é o ideal para identificação da infecção de ambas as espécies (B. canis e/ou Babesia gibsoni).
O tratamento de eleição para a babesiose canina por Babesia canis (mais comum no Brasil) é o dipropionato de imidocarb (5-6,6 mg/kg/IM ou SC, duas doses, com intervalo de 14 dias entre elas). A pré-medicação com atropina na dose de 0,022 – 0,05 mg/kg/SC, 15 minutos antes, reduz os efeitos colaterais agudos do imidocarb resultantes do estímulo colinérgico caracterizados por vômitos, tremores, salivação excessiva, lacrimejamento, diarreia, agitação, letargia, hipertermia e edema periocular.
O imidocarb tem pouca eficácia nas infecções causadas pela B. gibsoni. O aceturato de diminazene também constitui uma boa escolha de tratamento tendo ação contra ambas as Babesias (B. canis e B. gibsoni) e pode ser utilizado em dose única de 3,5 – 5mg/kg pela via intramuscular.
Febre Maculosa
A febre maculosa é uma doença causada pela Rickettsia rickettsii, bactéria gram negativa intracelular obrigatória. A doença é uma zoonose emergente e bastante grave sendo o cão um dos animais sentinelas para a enfermidade em humanos.
O carrapato da espécie Amblyomma cajennense é implicado como o maior responsável pela transmissão da febre maculosa, podendo ser transmitida também pelo Dermacentor spp e Rhipicephalus sanguineus.
A bactéria possui um tropismo por células endoteliais resultando nas manifestações clínicas características de sua infecção que se assemelham com outras hemoparasitoses como a erliquiose monocítica canina.
Apesar do período de incubação da doença variar de 2 a 14 dias, a febre, que geralmente é a primeira manifestação clínica, pode ocorrer entre 2 a 3 dias após a exposição ao carrapato contaminado. Letargia, anorexia, vômito, diarreia, linfoadenomegalia, esplenomenomegalia também são achados comuns.
Lesões cutâneas podem acontecer na fase aguda e se caracteriza principalmente por hiperemia e edema de extremidades como lábios, narina e orelhas. Relutância em caminhar também pode ocorrer principalmente em cães com poliartrite e miosite secundárias ao processo inflamatório.
Uveíte e sinais de sangramento ocular também podem ocorrer. Necrose cutânea, equimose, hepatomegalia são achados mais comuns em animais severamente afetados. Cerca de 40% dos animais infectados desenvolvem alteração neurológica, que pode variar desde vestibulopatia até sinais mais graves relacionados à encefalomielite e meningite.
Os cães podem vir a óbito devido à formação de microtrombos em órgãos vitais ou ainda processo hemorrágico ou coagulopatia (CID). Animais severamente afetados podem morrer em decorrência da progressão dos sinais neurológicos, choque cardiovascular e insuficiência renal aguda.
As alterações laboratoriais variam de leve leucopenia até leucocitose por neutrofilia, desvios à esquerda e granulação tóxica. Trombocitopenia leve a moderada é comum devido à vasculite e destruição imunomediada. Anemia não regenerativa de grau leve também pode estar presente.
A febre maculosa é uma doença causada pela Rickettsia rickettsii e é uma zoonose emergente e bastante grave com impacto importante na saúde pública, já que o cão posa como sentinela para enfermidade em seres humanos. Nos cães, a fase aguda da doença pode se manifestar com febre, hiperemia e edema de extremidades como lábios, narina e orelhas. Um ponto de atenção é que a febre maculosa pode levar a alterações neurológica em ate 40% dos animais infectados, o que pode mascarar a suspeita diagnostica inicial.
As alterações bioquímicas mais comuns são hipoalbuminemia devido à vasculite ou nefropatia secundária. Enzimas hepáticas (ALT) e renais podem estar elevadas na dependência da afecção destes órgãos, secundárias às injúrias de vasculite ou hipóxia. Hematúria e proteinúria também podem estar presentes devido às coagulopatias ou injúria glomerular e tubular renal.
Podem apresentar hiponatremia e discreta hiperbilirrubinemia. Os pacientes podem ainda apresentar alterações na coagulação caracterizadas por prolongamento do TTPA e aumento do fibrinogênio.
O método sorológico de microimunofluorescência indireta pesquisa anticorpos IgM e IgG contra Rickettsia rickettsii. Um resultado positivo pode refletir exposição prévia à R. rickettsii ou a alguma Rickettsia não patogênica do grupo. Outro fato é que infecções por Rickettsia rickettsii podem resultar em títulos de anticorpos persistentes.
Desta forma não é possível o diagnóstico definitivo da enfermidade baseado apenas em um único resultado sorológico positivo. O ideal seria realizar uma sorologia pareada após 15 dias observando um aumento da titulação em torno de 4 vezes.
Entretanto, um único título alto diante de um quadro agudo com manifestações clínicas sugestivas e uma apropriada resposta à terapia sugere infecção. Resultados falso-negativos são comuns na fase aguda da doença.
O exame de PCR do sangue total pode ser usado para confirmar infecção na fase aguda da doença em cães soronegativos, entretanto a sensibilidade clínica é baixa (60%) porque os microrganismos circulam em baixas quantidades e de forma, intermitente na fase aguda no sangue periférico. Desta forma resultados negativos não excluem a possibilidade de infecção.
O tratamento de eleição é a doxiciclina sendo efetiva para eliminar a infecção e outras comorbidades comumente associadas como A. platy e Ehrlichia spp. A dose é 5 mg/kg a cada 12 horas por 14 dias, mas recomenda-se prolongar o tratamento para 28 dias devido às outras infecções que podem estar associadas, principalmente a erliquiose.
Hepatozoonose
A hepatozoonose canina é uma hemoparasitose causada por um protozoário do gênero Hepatozoon e transmitida por carrapatos. Há duas espécies que causam a enfermidade: Hepatozoon canis (H. canis) e Hepatozoon americanum. Apesar do nome, a hepatozoonose canina não é uma zoonose e raramente afeta o fígado.32 No Brasil, os estudos mostram que o Hepatozoon canis é o agente causador da doença.
O Rhipicephalus sanguineus é considerado o vetor biológico, mas pode ser que outras espécies de carrapatos como Amblyomma cajennense, Amblyomma ovale e Rhipicephalus (Boophilus) atuem como potenciais vetores, já que a maioria dos cães acometidos são de áreas rurais e têm infestações mistas com várias espécies de carrapatos.
Diferente de outros patógenos transmitidos por carrapatos, cuja via de transmissão é a glândula salivar, a transmissão de H. canis para o cão ocorre após a ingestão de um carrapato contendo oocistos esporulados na hemocele que se rompem no trato digestivo do animal liberando os esporozoítos. O carrapato se infecta ao se alimentar do sangue contendo gamontes de H. canis no interior dos neutrófilos e monócitos circulantes. O cão é considerado um hospedeiro intermediário neste ciclo.
As manifestações clínicas da hepatozoonose em cães são inespecíficas e podem variar em intensidade mas, em geral, os animais são assintomáticos ou apresentam sintomas leves da doença. As coinfecções com Ehrlichia, Babesia, Anaplasma, Leishmania sp, parvovírus e vírus da cinomose podem reativar uma infeção pré-existente com agravamento do quadro clínico. A maioria dos cães com H. canis tem uma baixa parasitemia com menos de 5% dos leucócitos circulantes infectados com gamontes. O nível de parasitemia é diretamente proporcional à gravidade das manifestações clínicas. Cães com baixa parasitemia podem apresentar mucosas pálidas e letargia. Cães com alta parasitemia normalmente apresentam febre, letargia e severa perda de peso ou caquexia, normalmente com bom apetite. Podem apresentar ainda linfoadenomegalia e esplenomegalia.
A hepatozoonose canina é causada por um hemoprotozoário do gênero Hepatozoon e a espécie reportada no Brasil é o H. canis. Diferente das outras hemoparasitoses, sua infecção ocorre pela ingestão acidental do carrapato infectado. As manifestações clínicas dependem do nível de parasitemia podendo variar desde mucosas pálidas e letargia até febre e severa perda de peso.
Variações hematológicas em quadros de hepatozoonose são diretamente relacionadas à parasitemia, à resposta imunológica individual e à presença ou não de coinfecções. As principais alterações laboratoriais são anemia e trombocitopenia sendo que esta última é observada de forma mais acentuada em cães que apresentam infecções concomitantes.
O diagnóstico é baseado na demonstração de gamontes do H. canis que podem ser identificados no citoplasma de neutrófilos ou monócitos em esfregaço de sangue periférico (Figura 2), tampão leucocitário e de aspirado esplênico que aumentam a possibilidade da demonstração do microrganismo.
Figura 2: Gamonte de Hepazoon (seta) identificado em neutrófilo de sangue periférico de cão (Cortesia M.V. Fabio Novelli Martorelli – UNISA)
Métodos sorológicos como RIFI e ELISA são utilizados em estudos epidemiológicos. Resultados positivos não diferenciam exposição prévia ao agente de infecção ativa. Os resultados positivos devem ser relacionados às manifestações clínicas condizentes.32 A sorologia é útil em animais com baixa parasitemia ou infecções crônicas.
A técnica de PCR real time que detecta Hepatozoon sp está disponível em laboratórios de biologia molecular. Embora altamente sensível e específico, resultados falso-negativos podem ocorrer no início de uma infecção ou em cães com doença crônica em que o número de gamontes são extremamente baixos ou ausentes.
As infecções por H. canis são tratadas com dipropionato de imidocarb (5-6 mg/kg/SC ou IM, duas aplicações com intervalo de 14 dias entre elas) até o desaparecimento dos gamontes no sangue periférico. A doxiciclina (5mg/kg/BID ou 10 mg/kg/SID) por 28 dias é frequentemente associada ao tratamento com dipropionato de imidocarb. Este tratamento é efetivo na maioria dos cães acometidos.
Hemoplasmose ou Micoplasmose Canina
A hemoplasmose canina, também denominada de micoplasmose canina, é causada pelos hemoplasmas Mycoplasma haemocanis (M. haemocanis) e Candidatus Mycoplasma haemoparvum. São organismos de vida livre, pequenos e não possuem parede celular. As infecções por M. haemocanis são associadas com anemia hemolítica em cães esplenectomizados, imunossuprimidos ou com alguma doença concomitante. A transmissão do M. haemocanis pode ser por picada do carrapato Rhipicephalus sanguineus ou via transfusão sanguínea.
As manifestações clínicas são letargia, fraqueza e mucosas pálidas ocorrendo normalmente após esplenectomia. Cães imunocompetentes raramente desenvolvem a doença. Geralmente não apresentam febre. A alteração laboratorial mais frequente é anemia regenerativa com macrocitose, reticulocitose, anisocitose e policromasia.
O Mycoplasma haemocanis pode ser identificado no esfregaço sanguíneo de cães clinicamente doentes (Figura 3) e tende a formar uma cadeia curta, sendo facilmente diferenciado de artefatos e outras alterações morfológicas dos eritrócitos. Entretanto, os hemoplasmas não são visíveis em cães infectados de forma crônica ou assintomáticos. A PCR é o teste de eleição para o diagnóstico de hemoplasmose em cão.
O tratamento de eleição é a doxiciclina (5 mg/kg/ BID ou 10 mg/kg/SID) por pelo menos 4 semanas podendo se prolongar por 8 a 12 semanas.
Figura 3: Mycoplasma heaemocanis em hemácias de cão formando cadeias curtas (setas) Arquivo pessoal
Rangeliose
A rangeliose, também conhecida como nambiuvú ou peste do sangue, é uma enfermidade emergente no Brasil documentada principalmente na Região Sul38 e recentemente no Sudeste39. Esta moléstia infecciosa é causada por um piroplasma Rangelia vitalii (R. Vilalli) que se assemelha à Babesia sp.
Atualmente, acredita-se que este protozoário seja transmitido por carrapatos Rhipicephalus sanguineus e Amblyomma aerolatum, espécies que também infectam mamíferos selvagens. O ciclo do parasita não é totalmente conhecido, entretanto há a hipótese de que estes carrapatos possam veicular o protozoário entre mamíferos selvagens e os cães, que talvez sejam os hospedeiros erráticos deste piroplasma.
A R. vitalli se replica em eritrócitos, monócitos, neutrófilos e capilares endoteliais e pode ser encontrada em aspirados de tecidos reticuloendoteliais.
A rangeliose é uma enfermidade causada por um piroplasma chamado Rangelia vitalii que se assemelha à Babesia sp. A patologia é emergente no Brasil, documentada na Região Sul do país e recentemente também Sudeste. A R. Vilalli se replica em diversas células sanguíneas e os sintomas da doença incluem febre, anemia, icterícia, trombocitopenia, perda de peso, linfoadenopatia, hepatoesplenomegalia, hemorragias, hematoemese e diarreia sanguinolenta.
A enfermidade é caracterizada por febre, anemia (hemolítica), icterícia, trombocitopenia, perda de peso, linfoadenopatia, hepatoesplenomegalia, hemorragias cutâneas e mucosas, hematoemese e diarreia sanguinolenta. Pode ocorrer também um extenso sangramento em extremidades das orelhas justificando o nome indígena nambiuvú (orelhas que sangram) devido à intensa trombocitopenia em consequência da vasculite e sequestro esplênico.
No leucograma, frequentemente há leucocitose com desvio à esquerda regenerativo, pela estimulação prolongada e inespecífica da medula óssea. Outros achados incluem linfocitose e monocitose. A ALT pode estar elevada em decorrência da necrose centrolobular hepática por hipóxia devido à anemia. Bilirrubinemia e bilirrubinúria podem estar presentes.
O diagnóstico in vivo na ausência de testes moleculares é baseado na epidemiologia, manifestações clínicas e laboratoriais e de forma terapêutica já que o parasita é ocasionalmente encontrado na circulação (aproximadamente 4% dos casos). Atualmente, há a possibilidade de realização de PCR de sangue periférico que auxilia no diagnóstico da enfermidade.
O tratamento é baseado na combinação de dipropionato de imidocarb (5-6 mg/kg/SC ou IM, duas aplicações com intervalo de 14 dias entre elas) e doxiciclina (5mg/kg/BID ou 10 mg/kg/ SID) por 28 dias.
Resumo dos Principais Aspectos das Hemoparasitoses que Acometem os Cães Domésticos no Brasil
Referências Bibliográficas
Sykes JE. Ehrlichiosis. In: Sykes, JE. Canine and Feline Infectious Diseases. Elsevier Saunders, cap 28, p. 278-289, 2014.
Sainz A, Roura X, Miro G, et al. Guideline for veterinary practioners on canine erlichiosis and anaplasmosis in Europe. Parasites & Vectors, 8:75, 1-20, 2015.
Nyindo M, Huxsoll DL, Ristic M, et al. Cell Mediated and humoral immune resposes of German Shepherd dogs and beagles experimental infection with Ehrlichia canis. Am J Vet Res, 41(2):250-4, 1980.
Ueno T, Aguiar D, Pacheco R, et al. Ehrlichia canis em cães atendidos em hospital veterinário de Botucatu, Estado de São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 18(3): 57-61, 2009.
Souza BMPS, Leal DC, Barbosa DVPM, et al. Prevalência da infecção por Ehrlichia em cães e carrapatos no Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 19(2): 89-93, 2010.
Harrus S, WanerT. Diagnosis of canine monocytotropic ehrlichiosis (Ehrlichia canis): An overview. The Veterinary Journal, 187: 292–296, 2011.
Carlos RSA, Neta ESM, Spagnol FH, et al. Frequência de anticorpos anti-Ehrlichia canis, Borrelia burgdorfi e antígenos de Dirofilaria immitis em cães na microrregião Ilheús-Itabuna, Bahia, Brasil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 16(3): 117-120, 2007b.
Gianopoulos A, Mylonakis M, Theodorou K, et al. Quantitative and qualitative leukocyte abnormalities in dogs with experimental and naturally occurring acute canine monocytic ehrlichiosis. Veterinary Clinical Pathology, 45(2):281-290, 2016.
Manoel CS. Alterações clínicas, hematológicas e sorológicas de cães infectados por Ehrlichia canis [Dissertação]. Universidade de São Paulo, Faculdade de medicina veterinária e zootecnia, 2010. 65p.
Cardenas A M, Doyle CK, Zhang X, et al. Enzyme-linked Immunosorbent assay with conserved imumnoreactive glycoproteins gp36 and gp19 has enhanced sensitivity and provides species-specific immunodiagnosis of Ehrlichia canis infection. Clinical and vaccine immunology, 14 (2): 123-128, 2007.
Sousa VRF, Almeida ABPF, Barros LA, et al. Avaliação clínica e molecular de cães com erliquiose. Ciência Rural Santa Maria, 40 (6): 1309-1313, 2010.
Neer TM, Breitschwerdt EB, Greene RT, et al. Consensus Statement on Ehrlichial Disease of Small Animals from the Infectious Disease Study Group of the ACVIM. Journal of Veterinary Internal Medicine , 16:309–315, 2002.
Vieira RFC, Biondo AW, Guimarães MAS, et al. Erhlichiosis in Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 20(1): 1-12, 2011.
McClure JC, Crothers ML, et al. Efficacy of a doxycycline treatment regimen initiated during three different phases of experimental ehrlichiosis. Antimicrobial agents and chemotheraphy, 62(7): 5012-5020, 2010.
Matthewman LA, Kelly PJ, Brouqui P, et al. Further evidence for the efficacy of imidocarb dipropionate in the treatment of Ehrlichia canis infection. J.S.Afr.Vet. Assoc, 65:104-107, 1994.
Eddlestone SM, Neer, TM, Gaunt, SD, et al. Failure of imidocarb dipropionate to clear experimentally induced Ehrlichia canis infection in dogs. J. Vet. Intern. Med. 20:840-844, 2006.
Maurin M, Abergel C, Raoult D. DNA gyrase mediated natural resistence to fluoroquinolones in Ehrlichia spp. Antimicrob Agents Chemother, 45:2098-2105, 2001.
Sykes JE, Foley, JE. Anaplasmosis. In: Sykes, J.E. Canine and Feline Infectious Diseases. Elsevier Sanunders, cap 29, p. 290-299, 2014.
Harvey JWS. Trombocytotropic Anaplasmosis. In: Greene, C.E. Infectious disease of the dog and cat. Hardcover December, cap 28, p. 256-259, 2011.
Dagnone AS, Souza AI, et al. Molecular diagnosis of Anaplasmataceae organisms in dogs with clinical and microscopical signs of ehrlichiosis. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 18(4): 20-25, 2009.
Santos HA. Diagnóstico da infecção por Anaplasma phagocythophilum (Foggie 1949) em cães domésticos e carrapatos de áreas urbanas e rurais da microrregião de Itaguaí, Rio de Janeiro. 100p, 2011.
Silveira JAG, Reis IA, Estevam LGTM. Important frequency of Anaplasma phagocythophilum infection in a population of domiciled dogs in a urbanized area in a south –eastern Brazil, 37(9):958-962, 2017.
Dias VACM, Ferreira FLA. Babesiose canina : Revisão. Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia, 10(2):886-888, 2016.
Birkenheuer AJ. Babesiosis. In: Sykes, J.E. Canine and Feline Infectious Diseases. Elsevier Sanunders, cap 75, p. 727-738, 2014.
Taboada J, Lobetti R. Babesiosis. In: Greene, C.E. Infectious disease of the dog and cat. Hardcover December; p. 722-736, 2006.
Baneth G. Antiprotozoal treatment of canine babesiosis. Veterinary Parasitology, 254: 58-63, 2018.
Campos SDE, Cunha NC, Almosny, NRP. Brazilin Spotted Fever with an Approach in Veterinary Medicine and One Health Perspective. Veterinary International Medicine, 2016. Acesso eletrônico: http://dx.doi.org/10.1155/2016/2430945
Cunha NC, Fonseca AH, Rezende J, et al. First identification of natural infection of Rickettsia rickettsii in the Rhipicephalus sanguineus tick, in the State of Rio de Janeiro. Pesq Vet Bras, 29(2): 105-108, 2009.
Greene, G.E.; Kidd, L.; Breitschwerdt, E.B. Rock Montain Spotted Fever. In: Greene, C.E. Infectious disease of the dog and cat. Hardcover December, p. 259-267, 2011.
Labruna MB, Kamakura O, Moraes Filho J, et al. Rocky Mountain Spotted Fever. Emerging Infections Diseases, 15(3): 458-460, 2009.
Kidd L, Breitschwerdt EB. Rocky Mountain Spotted Fever. In: Sykes, J.E. Canine and Feline Infectious Diseases. Elsevier Saunnders, cap 30, p. 300-310 , 2014.
Vincent-Johnson, N. Canine and Feline Hepatozoonosis. In: Sykes, J.E. Canine and Feline Infectious Diseases. Elsevier Sanunders, cap 77, p. 747-759, 2014.
Demoner LC, Antunes JMA, O’Dwyer LH. Hepatozoonose canina no Brasil: aspectos da biologia e transmissão. Vet. e Zootecnia, 20(2): 193-202, 2013.
Antunes TR, Valençoela RA, Sorgatto S, et al. Aspectos hematológicos e epidemiológicos em cães naturalmente infectados por Hepatozoon sp no município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil. Acta Veterinaria Brasilica, 9(3), 234-238, 2015.
Nelson, RW, Couto, CG. Doenças bacterianas polissistêmicas. In: Nelson, RW, Couto, CG. Medicina interna de Pequenos Animais, Elsevier Saunders, p. 1317- 1319, 2010.
Sykes JE. Mycoplasma infections. In: Sykes, J.E. Canine and Feline Infectious Diseases. Elsevier Saunders, cap 40, p. 382-389, 2014.
Pitorri F, Carmichael R et al. Use of real time quantitative PCR to document the successful treatment of Mycoplasma heamocanis infection with doxycycline in a dog. Vet. Clin. Pathol., 41:493-496, 2012.
Fighera RA. Rangeliose. Acta Scientiae Veterianariae, 35(2): 261-263, 2007.
Silva EC, Torres LN, Correa SVM. Rangeliose em cão doméstico (Canis lúpus familiaris) uma doença emergente. Anais do Congresso da XXIII Semana do VPT – FMVZ-USP.
Sykes JE. Miscellaneous Protozoal Diseases. In: Sykes, J.E. Canine and Feline Infectious Diseases. Elsevier Saunders, cap 83, p. 797, 2014.