Nutrição no manejo do paciente felino com diarreia

Empresa

Hill's

Data de Publicação

30/05/2019

PDF

Produtos Relacionados

Hill´s em parceria com a Dra. Giovana Mazzotti

Por muitos anos foi senso comum realizar periodos de jejum para animais com diarreia, sob a premissa de fornecer um “descanso” para o intestino se recuper da moléstia. Fato é que esse tipo de tratamento foi estabelecido muito mais por experiências pessoais do que por pesquisas científicas. Muitos animais de fato apresentavam melhoras, entretanto muito outros covaleciam ou vinham ao óbito sem que o médico-veterinário associasse a falta de ingestão alimentar à causa da piora clínica.

Experimentos vêm mostrando que o jejum talvez seja benéfico apenas nos raros casos de vômitos graves e incontroláveis. O intestino, ao contrário, não se beneficia do jejum alimentar completo; mais grave, o jejum alimentar completo, mesmo que por curto período, retarda a recuperação das afecções intestinais.

Isso significa que um gato com diarreia deve continuar sendo alimentado com a sua ração usual? Não. Nos casos onde o intestino esteja doente pode haver uma sobrecarga de trabalho quando continuamos a fornecer um alimento não específico. Nesses casos, faz-se fundamental o uso de dietas altamente digestíveis cujos nutrientes favoreçam a recuperação intestinal, bem como com nutrientes de facíl digestão e assimilação pelo intestino delgado proximal.

Um gato acometido por qualquer doença que promova danos na mucosa intestinal terá um aumento a permeabilidade dos tecidos desse órgão favorecendo translocação bacteriana, bem como o reconhecimento de nutrientes comuns nas dietas como sendo antígenos. De fato, é comum observarmos filhotes com diarreia profusa vindo ao óbito por sepse e também gatos adultos que já tiveram episódios de diarreia ao longo de suas vidas desenvolvendo intolerâncias e alergias alimentares.

Sendo assim, gatos com diarreia de intestino grosso ou delgado terão como parte de seus tratamentos a prescrição de dieta adequada pelo médico-veterinário. Exceto em casos de colites de origem imunomediada e de doença intestinal inflamatória (DII) - os quais podem ser tratados com alimento hipoalergênico - os gatos com diarreia de quaisquer outras origens deverão receber dieta formulada especificamente para o tratamento de afecções gastrintestinais.

Na rotina é bastante comum casos de filhotes com giardíase ou outros patógenos intestinais que mesmo depois de tratados e com exames negativos, continuam a apresentar diarreia. De fato, ocorre uma alteração da permeabilidade intestinal, bem como o superprescimento bacteriano, que contribuem para a perpetuação do quadro clínico, sendo o alimento fundamental para reestabelecimento da fisiologia intestinal.

Um ponto importante é como realizar a alimentação do paciente felino. Idealmente deve-se oferecer pequenas porções diárias (3 a 6 refeições ao longo do dia) com objetivo de não induzir uma sobrecarga alimentar. O uso de alimento úmido é altamente recomendável, uma vez que o gato com diarreia desidrata facilmente e a dieta úmida vem recompor o balanço hídrico.

Nesses casos, faz-se mais importante ainda o fracionamento em pequenas refeições, com intuito de não sobrecarregar o jejuno que não será capaz de absorver o grande volume de liquido, agravando a diarreia. Outra vantagem é que o alimento úmido é digerido mais rapidamente pelo estômago, facilitando a recuperação do paciente e minimizando mal-estar.

Os componentes de uma dieta ideal para o paciente com diarreia devem ser considerados de fundamental importância, uma vez que são intimamente relacionados com a melhora ou a piora do quadro clínico. De maneira em geral, aconselha-se que essa dieta tenha nutrientes de excelente valor biológico e alta digestibilidade, tais como proteínas (digestibilidade >87%), carboidratos (digestibilidade >90%) e gorduras (digestibilidade >90%). Além desses nutrientes, é aconselhável que haja fibras e prebióticos em sua composição. Deve-se restringir a oferta de carboidratdos e não ofertar alimentos que tenha lactose, pois esses agravam os quadros de diarreia e inflamação intestinal.

O manejo nutricional deve ser considerado tão importante quando a prescrição de qualquer outro medicamento pelo médico-veterinário, jamais sendo deixada para "escolha do cliente”. Deve-se ter como conduta a prescrição de um alimento com alto teor de proteína de alta digestibilidade e baixo teor de carboidratos, bem como teores moderados de gordura, fibras solúveis e prebioticos.

Componetes da dieta para o gato com diarreia

Gorduras

Ao contrário do que ocorre em cães, os gatos com afecções do intestino delgado toleram muito bem as dietas contendo níveis mais altos de gordura (mínimo de 36%), não exacerbando a diarreia ou retardando o esvaziamento gástrico desses animais. Esse fato é bastante importante, pois a gordura pode conferir maior palatabilidade ao alimento para gatos anorexicos ou hiporéxicos, além de fornecer mais calorias em um menor volume alimentar. Estudo mostrou que a gordura da dieta não piora os quadros de diarreia crônica em gatos, entretanto, a digestibilidade dos nutrientes foi de grande importância para o controle da doença.

Proteínas

As proteínas são essenciais na alimentação dos gatos, entretanto, deve-se se ter  bastante critério não somente na quantidade de proteínas na composição do alimento, como também na origem da proteína ofertada. A fonte proteica também deve ser de facíl digestão, pois proteínas intactas são muito mais antigênicas do que polipeptídeos e aminoácidos. A glutamina é de fundamental importância na recuperação do intestino lesionado.

Carboidratos

Gatos não têm necessidades nutricionais para o consumo do carboidrato, muito embora eles possam ser utilizados como fonte de energia de uma forma mais conservadora.

Fibras

O uso de fibra solúvel (fermentável) auxila na oferta de butirato e ácidos graxos de cadeia curta. O butirato é uma das principais fonte de energia para o colonócito, favorecendo a recuperação do tecido do intetino grosso. Os ácidos graxos de cadeia curta auxiliam na redução pH do colon, retardando o crescimento de patógenos. As filbras insolúveis são interessantes para aumentar a segmentação e a propulsão do cólon, normalizando seu trânsito, além de aumentar a absorsão de água pelo bolo fecal.

Prebióticos e probióticos

Prebióticos são componentes alimentares que estimulam a atividade ou a proliferação dos probióticos - microrganismos favoráveis ao organismo. O frutooligossacarídeo (FOS) é um prebiótico que promove seletivamente o crescimento de probióticos (ex. Lactobacilii e Bifidobacteria) que colonizam o intestino delgado distal e o cólon. Essa microbiota compete com demais patógenos, favorecendo a recuperação do paciente.

Outros prebióticos estudados em gatos são o mannanooligosacarideo, a inulina, a chicória, a lactosucrose e o oligofrutose. O uso do iogurte da dieta humano na intenção de auxiliar na microbiota salutar do intestino não se justifica, pois não há evidências que esses microrganismos sejam capazes de trazer benefícios aos gatos.

Assim, ressalta-se a influência dietética no microbioma intestinal e, consequentemente, na recuperação do paciente e o médico-veterinário deve inserir na conduta terapêutica do felino com diarreia o correto manejo nutricional.

Bibliografia

Marks SL, editor Advances in Dietary Management of Gastrointestinal Disease. 28th World Congress of the World Animal Veterinary Association; 2003; Banckok.

Zoran DL. Nutritional Management of Feline Gastrointestinal Diseases. Topics in Companion Animal Medicine. 2008;23(4):200-6.

Laflamme DP, Xu H, Cupp CJ, Kerr WW, Ramadan Z, Long GM. Evaluation of canned therapeutic diets for the management of cats with naturally occurring chronic diarrhea. Journal of Feline Medicine and Surgery. 2012;14(10):669-77.

Chan D. The inappetent hospitalised cat. Clinical approach to maximising nutritional support. Journal of Feline Medicine and Surgery. 2009;11:925-33.

Tysnes KR, Luyckx K, Cantas L, Robertson LJ. Treatment of feline giardiasis during an outbreak of diarrhoea in a cattery: potential effects on faecal Escherichia coli resistance patterns. J Feline Med Surg. 2016;18(8):679-82.

Laflamme DP, Xu H, Long GM. Effect of Diets Differing in Fat Content on Chronic Diarrhea in Cats. Journal of Veterinary Internal Medicine. 2001;25:230-5.

Di Cerbo A, Morales-Medina JC, Palmieri B, Pezzuto F, Cocco R, Flores G, et al. Functional foods in pet nutrition: Focus on dogs and cats. Res Vet Sci. 2017;112:161-6.

Rudinsky AJ, Rowe JC, Parker VJ. Nutritional management of chronic enteropathies in dogs and cats. JAVMA. 2018;253(5):570-8.

Grzeskowiak L, Endo A, Beasley S, Salminen S. Microbiota and probiotics in canine and feline welfare. Anaerobe. 2015;34:14-23.