A Doença Renal Crônica em felinos
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Introdução
Os rins são órgãos excretores, principais osmorreguladores dos vertebrados e responsáveis por múltiplas funções no organismos das quais depende a homeostase:
- Produção de Urina
- Filtração do sangue
- Excreção de substâncias
- Equilíbrio hídrico, eletrolítico e ácido-básico
- Controle da volemia
- Controle da Pressão Arterial
- Eritrorregeneração (síntese de Eritropoetina (EPO))
- Síntese de hormônios (vitamina D3)
Os rins são compostos por 3 componentes básicos e interdependentes: néfrons, vasculatura e interstício. Os néfrons são as unidades morfofuncionais dos rins. Cada um é formado por um glomérulo e um sistema complexo de túbulos.
Figura 1: Componentes morfofuncionais do rim: néfrons, vasculatura e interstício Fonte: http://www.centermedical.com.br/rim-nefron-anatomic/pr.
De uma forma bastante simples, os glomérulos filtram o sangue que chega aos rins através das artérias renais. Subprodutos e resíduos do nosso metabolismo são removidos do sangue por esse processo. O sangue filtrado retorna à circulação, perfundindo inicialmente o próprio sistema tubular.
O filtrado glomerular segue rumo aos túbulos, responsáveis pela qualidade da urina produzida, pois reabsorvem os elementos importantes para o organismo (ex. aminoácidos, pequenas proteínas, glicose, água, eletrólitos) e excretam elementos em excesso na circulação (ex. medicamentos, eletrólitos, íons e água). Cada segmento tubular é permeável ou não a diferentes substâncias. Existe um grau bem alto de diferenciação celular ao longo de todo o néfron que permite essa seletividade.
Na porção final do trajeto, existe um ajuste fi no bastante importante da concentração dessa urina através da ação da aldosterona e do hormônio antidiurético (ADH), que determinam maior reabsorção de água, e uma densidade urinária consequentemente mais alta. Em condições fisiológicas, a secreção dessas substâncias depende da volemia e do estado de hidratação de cada indivíduo.
Existe um aparato denominado justaglomerular localizado na arteríola eferente do glomérulo que avalia a pressão do sangue, que circula por ele. A detecção de pressões aquém do desejado aciona um sistema denominado Sistema Renina Angiotensina Aldosterona (SRAA), que tem efeito vasoconstritor (ação da renina e da angiotensina II), além de aumentar a volemia (retenção de sódio e água, por atuação da aldosterona). Dessa forma os rins regulam a Pressão Arterial, conjuntamente com o Sistema Cardiovascular.
Fibroblastos peritubulares intersticiais sintetizam e secretam eritropoietina (EPO), sob condições de hipóxia renal. A EPO é reponsável por controlar a produção de eritrócitos, promovendo a sobrevivência, a diferenciação e a proliferação das células progenitoras eritroides na medula óssea.
Os rins também são responsáveis pela conversão de 25-hidroxicolecalciferol ao seu metabólito mais ativo: 1,25-dihidroxicolecalciferol (calcitriol), um dos principais hormônios responsáveis pelo metabolismo do cálcio, juntamente com o paratormônio (PTH). Além de estimular a absorção de cálcio pelo intestino, o calcitriol modula a transcrição do PTH, controlando a sua síntese.
Partindo dessa multifuncionalidade renal, pode-se pressupor que condições patológicas que afetem os rins comprometam a homeostase como um todo. Portanto, pacientes nefropatas requerem avaliações complexas e sistemáticas para a manutenção de sua qualidade de vida e, se possível, sobrevida.
Doença Renal Crônica em Felinos
A doença renal crônica (DRC) é uma condição morfofuncional progressiva e irreversível, de um ou de ambos os rins, de evolução insidiosa, etiologia heterogênea (não identificável na maioria das vezes), com evolução superior a 3 meses.
Diferentemente do cão e do homem, a DRC dos felinos apresenta um componente patológico basicamente tubular; as doenças glomerulares primárias são bastante incomuns na espécie.
Apesar do nome doença, não é uma afecção verdadeira, trata-se de uma síndrome progressiva e multifatorial que culmina em inflamação intrarrenal crônica associada à fi brose, caracterizada por um quadro histopatológico comum denominado Nefrite Tubulointersticial (NTI), cujos mecanismos fisiopatológicos ainda não foram completamente elucidados. A maior parte de todas as nefropatias tem a NTI como desfecho.
Causas da DRC do felino doméstico
- Doença Renal Policística
- Neoplasias Renais
- Amiloidose
- Lesão Renal Aguda
- Pielonefrites
- Glomerulopatias
Quadro 1: Possíveis etiologias da DRC em felinos domésticos
A DRC é a nefropatia mais prevalente na espécie felina, com uma prevalência global entre 1-3% dentre todos os quadros mórbidos que trazem gatos para atendimento veterinário. Pode acometer indivíduos de qualquer idade, contudo, é considerada um processo senil, pois as suas taxas de prevalência são diretamente proporcionais à idade dos gatos acometidos, sendo uma das causas mais importantes de morbidade e mortalidade dos felinos geriátricos.
Estima-se que entre 35 e 50% dos gatos com mais de 15 anos sejam positivos para DRC4 e que 15-30% destes apresentem algum comprometimento funcional (baixa densidade, azotemia).
O diagnóstico de DRC avançada em animais jovens (menos de 7 anos) tem sido bastante frequente (Figura 1), o que traz à tona a preocupação acerca da nossa responsabilidade sobre as iatrogenias causadoras de lesões renais nos nossos pacientes, tais como a prescrição de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e a realização de procedimentos anestésicos.
Figura 2: Incidência da DRC em felinos. O componente etário é bem marcado na idade senil.
Mesmo sendo uma condição mais comumente identificada em fases mais tardias da vida, há evidências científicas de inflamação tubulointersticial no parênquima de gatos jovens que morreram de causas não renais, o que sugere que, talvez, a DRC seja parte de um processo normal de envelhecimento.
Infelizmente, o diagnóstico da DRC é tardio na maior parte dos casos, quando já se tenha uma perda de mais de 80% do parênquima renal. A perda progressiva do tecido funcional faz com que os néfrons remanescentes sofram adaptações compensatórias (hipertrofia), o que lhes permite realizar as funções daqueles que tenham sido destruídos, comportando-se como “supernéfrons”, sucumbindo com o tempo a essa sobrecarga funcional.
A creatinina é o marcador de fi ltração mais utilizado, contudo é tardia. As suas concentrações se elevam no sangue apenas após o comprometimento funcional de mais de 75% dos néfrons. Portanto, quando identificamos um gato hidratado e não obstruído como azotêmico, significa que lhe resta menos de 25% de massa renal funcional.
Em virtude disso, novos marcadores tem sido amplamente estudados, como o SDMA (dimetil arginina simétrica), muito mais precoce que a creatinina, cujas alterações na concentração demonstram redução da filtração glomerular em torno de 30 a 40%, ou seja, quando ainda remanescem 60 a 70% dos néfrons. Isso permite uma maior antecipação do diagnóstico e de medidas terapêuticas cabíveis, possivelmente melhorando o prognóstico quanto à qualidade e tempo de vida dos pacientes. Estudos relatam que o SDMA pode se antecipar à creatinina em até 17 meses.
O SRAA e a DRC
O aparelho justaglomerular participa da regulação do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular, além de controlar a pressão sanguínea sistêmica e a volemia, através do Sistema ReninaAngiotensina-Aldosterona (SRAA), em resposta à diminuição da perfusão renal efetiva, redução da reabsorção de sódio pelas células tubulares e estimulação β1 adrenérgica.
Quando ativado, ocorre a secreção de renina que cliva o angiotensinogênio à angiotensina I (ATI), subsequentemente convertida por ação da enzima conversora (ECA) à angiotensina II (ATII), que quando produzida, inibe a secreção de renina por feedback negativo. ATII atua em receptores específicos, sendo AT1 e AT2 os mais importantes e com efeitos antagônicos (Figura 2).
Todos os vários componentes do SRAA podem ser encontrados em uma grande variedade de tecidos, incluindo os rins. A ATII intratecidual exerce um papel importante em certos tipos patológicos de remodelamento.
Figura 3: SRAA – a angiotensina II apresenta efeitos vasoconstritores, hipertensivos, pró-inflamatórios e pró-fibróticos modulados pelo receptor AT e vasodilatadores, natriuréticos, antiproliferativos e apoptóticos modulados por AT2.
A redução da taxa de filtração glomerular em indivíduos com DRC determina a ativação do SRAA, que aumenta a pressão de filtração por aumento da pressão intraglomerular (PIG), por meio da vasoconstrição da arteríola eferente e vasodilatação da arteríola aferente dos glomérulos remanescentes. A função glomerular é mantida; contudo a hipertensão glomerular gera proteinúria, além de proliferação celular, glomeruloesclerose e apoptose.
A proteína glomerular é, em parte, reabsorvida pelo epitélio tubular, processo extremamente lesivo para as células, gerando apoptose. A lesão tubular gera inflamação intersticial adicional, com alta secreção de citocinas, ativação do complemento e ativação de fatores pró-fibróticos, por mediação da AT2. As células tubulares apoptóticas se tornam produtoras de matriz colágena. A mera ativação do SRAA é um fator de progressão para DRC.
Figura 4: Mecanismo de progressão da DRC: a redução da Filtração Glomerular (FG) ativa o SRAA, aumentando a pressão intraglomerular (PIG), determinando proteinúria que causa danos ao glomérulo e perda de proteína pelo filtrado. Ao ser reabsorvida pelo epitélio tubular, a proteína gera morte celular, inflamação e fibrose, agravando a perda tecidual.
A quantificação da proteína na urina é dada pela razão entre proteína e creatinina urinária (UPC). A sua avaliação é importante porque a proteinúria persistente ou marcante é um fator prognóstico negativo para a doença renal crônica, diretamente associada ao grau de comprometimento funcional, risco de crise urêmica, piora progressiva da azotemia e morte.
Apresentação Clínica
Nos estágios iniciais da DRC, os gatos geralmente são assintomáticos, e a condição é descoberta através de um exame ultrassonográfico de rotina ou uma triagem laboratorial, muitas vezes pré-anestésica.
A função renal dos gatos com DRC sofre um declínio lento e gradual, inevitável, apesar de permanecer estável ao longo de meses ou anos, durante a progressão do processo.
Muitos gatos com DRC são apenas azotêmicos (aumento das concentrações séricas de ureia e creatinina), mas não urêmicos (sintomáticos). Com a evolução da DRC, os pacientes podem exibir poliúria e polidipsia, perda de peso, sarcopenia, perda da qualidade do pelame, desidratação, constipação e sinais clínicos de uremia, como: halitose, êmese, diarreia, letargia, fraqueza, alterações do apetite (anorexia/ hiporexia/polifagia), anemia e até encefalopatia.
Ao exame físico, gatos cronicamente enfermos podem apresentar baixo escore corporal, desidratação, pelagem malcuidada, mucosas hipocoradas, halitose, ulcerações em cavidade oral e rins diminutos e irregulares. Pacientes idosos podem desenvolver quadros de constipação e megacólon secundariamente à desidratação crônica, pela maior absorção de água através do cólon, compensatória à perda renal.
Diferentemente das outras espécies, felinos com DRC não têm hipergastrinemia, sendo rara a ulceração gástrica. Mineralização gástrica e fibrose são lesões mais significativas nesses pacientes e são associadas ao hiperparatireoidismo renal secundário (HPTR). Dessa forma, a náusea e a êmese são consequentes à ativação da Zona Quimioceptora de Disparo (ZQD) pelas toxinas urêmicas. É importante identificar a náusea (mesmo na ausência de vômito), pois, pode resultar em perda de apetite e subsequente desnutrição proteica e calórica.
Uma série de condições consequentes à DRC se desenvolvem ao longo de todo o processo atuando como sinalizadoras ou, até mesmo, como comorbidades, podendo, inclusive, contribuir para a progressão da própria DRC. São elas:
Acidose Metabólica: pode incitar ou agravar os sinais de uremia. Não se conhece o verdadeiro mecanismo pelo qual se estabelece, muito menos se favorece a progressão da DRC8 . Em estudos realizados, observou-se acidose metabólica em gatos em Estágios III e IV.
Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS): condição bem reconhecida nos gatos com DRC, devido à ativação constante do SRAA. A aferição da pressão arterial sistólica (PAS) deve ser rotineira. Quando muito alta ou sustentada, pode levar à lesão em órgãos alvo: olhos (edema retiniano, tortuosidade dos vasos, pequenas hemorragias, descolamento de retina e cegueira), cérebro (convulsões, perda de equilíbrio, mudanças abruptas na personalidade, obnubilação), coração (hipertrofia do ventrículo esquerdo, sopros e arritmias) e os próprios rins (aumento da pressão intraglomerular, proteinúria, glomeruloesclerose, fibrose renal). Contudo, a HAS não é considerada um fator de aumento de mortalidade para os felinos.
Hiperparatireoidismo renal secundário (HPTR): a diminuição da excreção de fósforo associada com a deficiência de calcitriol, proporcionadas pela DRC, determinam uma hipersecreção de PTH (hiperparatireoidismo), considerado uma das mais importantes “toxinas urêmicas” existentes. Essa condição determina a reabsorção de cálcio dos ossos (osteopenia) com consequente aumento do cálcio circulante, permitindo a calcificação de tecidos moles como a parede gástrica, os vasos e os próprios túbulos renais. A vida útil das células (inclusive hemácias) se reduz bastante.
Hipopotassemia: gatos nefropatas são frequentemente hipopotassêmicos (ingestão inadequada, perdas urinárias, ativação do SRAA), principalmente entre os estágios II e III da DRC. Portanto, o potássio deve ser rotineiramente monitorado em gatos com DRC. Sinais clínicos associados à hipopotassemia são: letargia, falta de apetite, constipação, vômito e fraqueza muscular (ventroflexão cervical). Alguns estudos concluíram que as concentrações séricas de potássio são mais baixas nos gatos com pressões arteriais mais elevadas.
Anemia: 65% dos gatos com DRC desenvolvem anemia, de etiologia multifatorial (redução da síntese, maturação e diminuição da vida útil das hemácias), relacionada à uremia, ao processo inflamatório envolvido na DRC, HTPR e fatores nutricionais. A anemia relacionada a uma relativa falta de eritropoietina pode ser observada em alguns gatos. Além do impacto sobre a qualidade de vida, a anemia é um fator de risco independente para progressão de DRC.
Caquexia: a desnutrição é geralmente detectada como perda de peso, sarcopenia, anemia e baixa concentração de proteínas plasmáticas e albumina. Em gatos com DRC é uma importante consequência da baixa ingestão de alimentos, associada à ativação de uma via proteolítica (ubiquitina-proteossoma), ativada pelo excesso de toxinas, radicais livres, eicosanoides e citocinas pró-inflamatórias, gerando um estado de hipercatabolismo. Quando a desnutrição é evidente ou suspeita, sempre se deve investigar e tratar todas as possíveis alterações orgânicas envolvidas.
Pacientes com DRC comumente apresentam comorbidades da idade senil, que podem contribuir para o comprometimento do apetite, da condição corporal e da resposta ao tratamento administrado, como processos oncológicos, cardiopatias, hipertireoidismo, osteoartrites, nefrólitos, ureterólitos, infecções do trato urinário e odontopatias.
Figura 5: Apresentações clínicas de DRC: ventroflexão cervical em felino hipopotassêmico (A). Apatia, prostração, condição corporal ruim e palidez em felino em uremia grave (B) (Arquivo Pessoal).
Diagnóstico
Anamnese e exame físico bem elaborados, aliados a perfis laboratoriais completos e exames de imagem, são requisitos essenciais para a conclusão do diagnóstico e a boa condução terapêutica dos pacientes com DRC.
Quadro 2: Exames recomendados para o diagnóstico e reavaliação dos gatos com DRC.
Exames de imagem são mandatórios para avaliar a arquitetura e tamanho dos rins, condições renais primárias associadas à DRC (doença renal policística, neoplasias e pielonefrites) ou ainda processos obstrutivos (ureterolitíases e uropatias obstrutivas). A ultrassonografia é o método mais utilizado, mas exames radiográficos e a tomografia computadorizada muitas vezes também podem ser realizados.
Apesar de exames ultrassonográficos serem bons indicadores de alterações morfológicas renais, são os marcadores de filtração glomerular (creatinina e SDMA), em animais hidratados, que permitem a conclusão do diagnóstico da DRC e posterior estadiamento clínico dos pacientes.
A avaliação laboratorial não só auxilia o diagnóstico da DRC como também permite a investigação de todos os possíveis desequilíbrios decorrentes. Deve ser sempre a mais completa possível e reavaliada comparativamente. Uma vez estadiado, o paciente é subestadiado de acordo com a pressão arterial sistêmica e com a magnitude da proteinúria (UPC) variáveis que influenciam bastante no prognóstico.
Estadiamento da DRC
A IRIS (International Renal Interest Society - http://iris-kidney.com) desenvolveu um sistema de estadiamento, cujo objetivo é estabelecer diretrizes para o tratamento, monitoramento e prognóstico para os nefropatas. Os 4 estágios são definidos pelas concentrações de creatinina e SDMA do paciente estável e hidratado (em jejum), avaliadas em 2 ocasiões distintas (intervalo de 1 a 2 semanas).
A creatinina define os estágios. As concentrações de SDMA confirmam ou corrigem para um estágio mais avançado, caso os valores de referência para o estágio sejam ultrapassados. Exemplo: gato com 2,3mg/dL de creatinina e 30µg/dL de SDMA. Pela creatinina seria alocado no E II, mas a SDMA o coloca em um nível mais avançado - E III.
Quadro 3: Estadiamento do felino com DRC, segundo a IRIS, considerando as concentrações séricas de creatinina e SDMA.
Uma vez estadiado, o paciente é subestadiado de acordo com a pressão arterial sistêmica e com a magnitude da proteinúria (UPC), variáveis que influenciam bastante no prognóstico.
A pressão arterial deve ser aferida em ambiente calmo, após aclimatação dos pacientes, a fi m de classificá-los como normotensos (NT) ou hipertensos (HT). Pressões Arteriais Sistólicas superiores a 180 mmHg, preferencialmente requerem duas reavaliações em 3 momentos; aquelas situadas entre 150 e 180 mmHg devem ser reavaliadas em 2 momentos distintos, a intervalos de 2 meses. É classificado como hipertenso um paciente que apresente PAS persistentemente aumentada ao longo das 3 aferições.
Quadro 4: Subestadiamento do paciente nefropata de acordo com a PAS, segundo a IRIS.
A magnitude da proteinúria é avaliada por meio da razão entre a Proteína e a Creatinina Urinárias (UPC), que somente deve ser realizada na ausência de hemorragia, inflamação ativa ou infecção urinária, ou seja, se não houver sedimento ativo na urina.
É considerado proteinúrico um gato com UPC superior a 0,4 e não proteinúrico aquele com UPC inferior a 0,2. Valores de UPC situados entre 0,2 e 0,4 classifi cam esses pacientes como limítrofes (borderline). Idealmente, o subestadiamento ocorre após 3 determinações sequenciais, em momentos distintos. UPC superior a 0,4 deve ser reavaliada quinzenalmente. Valores inferiores devem ser reavaliados a cada 2 meses.
Figura 6: Escala de UPC para o subestadiamento de gatos com DRC, de acordo com a IRIS.
Tratamento da DRC
O tratamento da DRC não corrige ou trata as lesões/teciduais, que são irreversíveis. Portanto, tratar a DRC consiste em renoproteção, manutenção e tratamento sintomático de suporte, uma vez que atuar especificamente na causa quase nunca seja uma opção.
Gatos descompensados (em crise) geralmente requerem hospitalização e fluidoterapia intravenosa, além da correção de distúrbios eletrolíticos e ácido-básicos.
O grande objetivo da terapia de manutenção é proteger os rins de danos adicionais e minimizar as consequências clínicas e fisiopatológicas da disfunção renal, mantendo a qualidade de vida do paciente.
Objetivos do tratamento da DRC felina
- Manter a hidratação
- Atenuar os sinais clínicos da uremia
- Corrigir distúrbios associados a excessos ou déficits (eletrólitos, vitaminas e minerais)
- Garantir nutrição adequada (qualitativa e quantitativa)
- Modificar a progressão da doença renal (Renoproteção ou Nefroproteção)
Atingir esses objetivos não é uma tarefa fácil. Não existe UM protocolo de tratamento. Cada item é delineado individualmente de acordo com as necessidades do paciente com base em critérios clínicos e nos achados laboratoriais. Como a DRC é um processo dinâmico, reavaliações frequentes são necessárias para a reformulação do tratamento de acordo com as respostas de cada gato em particular.
Devem-se considerar todas as medidas terapêuticas potenciais, de acordo com o estadiamento apresentado, desde que a administração de múltiplas terapias não comprometa a qualidade de vida do paciente. Portanto, é importante priorizar as terapias que tragam reais benefícios para os gatos.
Hidratação
Pacientes hidratados tem melhor qualidade de vida, uma DRC de progressão mais lenta e manutenção da homeostase. Por isso, a hidratação é considerada um ponto crítico do tratamento, em todos os estágios da DRC, principalmente nos Estágios III e IV, pois a baixa densidade urinária predispõe à desidratação.
Animais desidratados apresentam perfusão renal muito deficiente que, além de ser um importante fator para azotemia pré-renal, também favorece a ocorrência de lesão renal adicional.
Para tanto é recomendada a via oral, com a utilização de recursos que estimulem o gato a uma maior ingestão de água (maior oferta, trocas frequentes, flavorizantes, adição de gelo) e de alimento úmido. A oferta de caldos de carne, atum e frango congelados (em pedras) também tem um efeito positivo: aumento da ingestão de água aliado a enriquecimento ambiental. A maioria dos gatos com doença branda a moderada, compensados, com ingestão normal de água e alimento, compensam suas próprias perdas, mesmo se poliúrico.
Consequentemente, a prática de fluidoterapia doméstica subcutânea permanente é pouco justificável (pois não resulta em qualquer tipo de diálise para atenuar a azotemia). Portanto, deve ser reservada para situações de desequilíbrio hídrico (vômito ou diarreia) ou para aqueles pacientes em estágios mais avançados (E III e E IV) cuja ingestão não seja suficiente para responder às suas necessidades, culminando em desidratação. Recomenda-se, a administração de soluções cristaloides isotônicas (75 a 150 mL a cada 1-3 dias).
Atenuar os sinais clínicos da uremia
Dietas de Prescrição: as dietas de prescrição para nefropatas trazem muitos benefícios potenciais para os pacientes com DRC. Quando comparadas às dietas de manutenção, são restritas em proteína, fósforo e sódio, apresentam aumento da densidade calórica, são alcalinizantes, além de suplementarem potássio, vitaminas do complexo B, antioxidantes e ácidos graxos (ômega-3). Seu objetivo é manter a condição corporal, minimizar ou retardar os sinais clínicos da uremia e manter a qualidade de vida dos gatos, se possível aumentando a longevidade. Alimentos comercialmente disponíveis são balenceados de forma a sustentar ingestão adequada de nutrientes quando consumidas quantidades apropriadas.
Acidose Metabólica: o tratamento só deve ser regido por hemogasometrias seriadas do paciente. O tratamento oral é recomendado para pacientes com concentrações plasmáticas de bicarbonato inferiores a 15 mmol/L e pH inferior a 72 . O citrato de potássio (40 a 60mg/kg cd 12h) é o agente recomendado7,8. Alterações brandas podem responder às dietas de prescrição.
Corrigir distúrbios associados a excessos ou déficits
Hipopotassemia: a suplementação de potássio deve ser implementada quando sua concentração sérica for inferior a 3,5 mmol/L. Apesar das dietas de prescrição renais serem enriquecidas com potássio, alguns pacientes podem requerer suplementação adicional com gluconato (40 a 60 mg/ kg/d) ou citrato de potássio (40 a 75 mg/kg/d), fracionados em 2 a 3 vezes ao dia. A reposição parenteral é geralmente reservada para gatos com concentrações séricas muito baixas de potássio ou que não aceitem a suplementação oral.
Em pacientes estáveis é realizada através de fluidoterapia subcutânea; pacientes críticos são suplementados por infusão contínua. O citrato apresenta a vantagem de também exercer efeito alcalinizante, neutralizando a acidose metabólica. Animais hospitalizados ou que não aceitem a administração por via oral devem receber fluidos acrescidos de potássio.
Por via subcutânea, pode-se administrar soluções com até 30 mEq/L (equivale a 3 mL de KCl a 19,1% para cada 250 mL de fluido). Pacientes com hipocalemia grave podem ser suplementados por via intravenosa, de forma cautelosa, na taxa máxima de infusão de 0,5 mEq/kg/h.
Hiperfosfatemia e HPTR: a fosfatemia pode ser, inicialmente, controlada com dietas de prescrição, porém a restrição proteica diretamente proporciona menor oferta de fósforo. Com a progressão da DRC, a resposta à dieta diminui. Nesses casos, há necessidade da administração de quelantes de fósforo, administrados juntamente com as refeições. Os quelantes mais utilizados são o hidróxido de alumínio e o carbonato de cálcio (60 a 90 mg/kg/d). O uso de carbonato de cálcio requer monitorização do cálcio ionizado, pois pode causar hipercalcemia, agravando a condição renal. A terapia com calcitriol (diferentes protocolos) é mal-sucedida em gatos.
Quadro 6: Concentrações séricas de fósforo recomendadas pela IRIS, nos diferentes estágios da DRC.
Anemia: uma abordagem completa das possíveis causas de anemia deve ser realizada. Valores de hematócrito persistentemente inferiores a 20%, a despeito do controle da azotemia, HTPR, ingestão de alimentos e hiperacidez gástrica recomendam a terapia de reposição de eritropoetina (não necessária para a maior parte dos gatos).
Utiliza-se a Eritropoetina Recombinante Humana (rhEPO - 100-200 UI/kg, SC, cd 48h), com aumento do intervalo ao se atingir o objetivo (valores de hematócrito de 25%). A EPO sintética, Darbepoetina, também pode ser utilizada (1 μg/kg, SC, 1x/ sem até Ht > 25%; depois 1 μg/kg, SC, cada 2-3 semanas, de acordo com Ht).
Garantir Nutrição Adequada
Controle da náusea e da êmese: as melhores escolhas terapêuticas para o controle da náusea/ êmese são Maropitant (1 mg/kg, VO, cd 24h) e a Mirtazapina (2 mg/gato, PO, cd 48 h), inclusive favorecendo a melhora do apetite. Outros fármacos antieméticos efetivos são a ondansetrona (0,5-1 mg/kg, SC, cd 8h) e dolasetrona (0,6-1 mg/kg, IV, SC ou PO, cd 24h).
Controle da Hiperacidez Gástrica: estudos recentes desmerecem a ranitidina como um inibidor efetivo de secreção ácida. Portanto, recomenda-se a famotidina ou o omeprazol (1 mg/kg, PO, cd 12h).
Terapia Orexígena: o controle da uremia, da náusea e da hiperacidez em conjunto já apresentam um importante efeito positivo sobre o apetite dos gatos com DRC. A Mirtazapina na dose antiemética é orexígena. Para pacientes com restrições ao seu uso, a ciproeptadina (2 mg/gato, VO, cd 12-24h) é uma alternativa.
Nutrição Assistida: pacientes que não voltam a se alimentar, a despeito do bom controle da náusea e da hiperacidez e da terapia orexígena, devem ser alimentados através de sondas nasoesofágias ou esofágicas, utilizadas também para administração de água e medicamentos. Observações clínicas sugerem que a alimentação assistida pode reverter a desnutrição e melhorar a qualidade de vida em muitos pacientes.
Renoproteção ou Nefroproteção
Renoproteção ou Nefroproteção é uma intervenção terapêutica com o objetivo de desacelerar o curso natural da DRC, que é progressivo. Tratamentos destinados a controlar a proteinúria e a hipertensão se provaram benéficos para retardar a progressão da DRC em humanos, como também em cães e gatos.
A chave da nefroproteção é a inibição do SRAA, não exclusivamente por sua atuação na PAS, mas sim pela supressão dos efeitos locais da ATII nos rins, que intensificam a inflamação e a fibrose. O tratamento com bloqueadores das ações da angiotensina II, tais como os Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina (IECAs) e os Bloqueadores dos Receptores AT1 da Angiotensina (BRAT1 s) retarda a progressão da doença renal e reduz a proteinúria.
Os IECAs e os BRAT1 s reduzem a proteinúria em um grau similar e, aparentemente, os BRAT1 s apresentam ação antiproteinúria superior a de outras drogas anti-hipertensivas. Embora alguns estudos em humanos mencionem a associação dos IECAs e BRAT1 s com o objetivo de uma maior nefroproteção, reforça-se que, além de não existirem publicações que corroborem com esta prática na espécie felina, os estudos mais recentes na espécie humana têm demonstrado que a associações destas classes farmacológicas levam a uma hipersecreção de renina com um risco aumentado de efeitos indesejáveis.
- Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina (IECAs)
Os IECAs interferem com a conversão de Angiotensina I (ATI) para Angiotensina II (ATII) bloqueando todos os seus efeitos, inclusive aqueles referentes aos receptores AT2 , que são nefroprotetores. A má resposta a essa categoria de fármacos pode ser explicada pela produção de Angiotensina II por uma via enzimática de escape: a via das quimases. Os IECAs mais utilizados para felinos são Benazepril e Ramipril.
- Antagonistas ou Bloqueadores dos Receptores AT1 da Angiotensina (BRAT1 s) – TELMISARTANA
A utilização dos BRAT1 s é recente na medicina veterinária, apesar de bastante difundida em humanos desde a década de 1980. Os BRAT1 s ou BRAs antagonizam especificamente os receptores tipo 1 da ATII (recepto AT1 ). São fármacos bem tolerados que, além do efeito anti-hipertensivo, fornecem um bloqueio mais pontual dos efeitos patológicos da ATII do que os IECAs, pois não interferem com os efeitos mediados pelos receptores AT2 . Os BRAT1 s mantêm seu efeito, a despeito da conversão de ATI para ATII por vias alternativas.
A telmisartana é um BRAT1 bastante estudado em ensaios clínicos e experimentais, em humanos e modelos animais, que comprovaram suas propriedades nefroprotetoras, além do antagonismo com as ações deletérias da Angiotensina II. Foram realizados estudos de efi cácia, comparando o benazepril com a telmisartana em gatos com DRC, que concluíram que o fármaco é seguro e bem tolerado, não inferior ao benazepril no controle da proteinúria e com um efeito aparentemente mais expressivo.
As doses recomendadas são de 0,5 a 1 mg/kg a cada 24 horas, com uma dose máxima não tóxica de 2 mg/kg a cada 24 horas. Sempre é recomendável iniciar com a menor dose e realizar ajustes de 0,5 mg/kg cada vez que se faz necessária.
Figura 7: Comparação entre os mecanismos de ação dos IECAs e dos BRAT1 s. Os IECAs inibem a enzima conversora da angiotensina, impedindo a sua formação e consequentemente seus efeitos nos receptores AT1 e AT2 , sem bloqueá-los. Os BRAT1 s bloqueiam diretamente o receptor AT1 , permitindo que a angiotensina II interaja com o receptor AT2 e exerça seus efeitos nefroprotetores.
- Tratamento anti-hipertensivo
A terapia medicamentosa é indicada nos pacientes com HAS persistente e/ou com risco de lesões em órgãos-alvo. Para tanto, almeja-se manter a PA Sistólica (PAS) inferior a 160 mmHg, a fim de evitar as lesões consequentes à HAS.
Para gatos, a monoterapia de escolha é o anlodipino (0,625-1,25 mg / gato, VO, a cada 12-24 horas). Para a maioria dos felinos hipertensos, a monoterapia com IECA não é efetiva. Eventualmente, o anlodipino também pode auxiliar no controle da proteinúria. No entanto, se ambos os efeitos não forem observados com um único fármaco, deve-se associar um IECA ou um BRAT1 no tratamento.
Existem controvérsias a respeito do efeito nefroprotetor do tratamento anti-hipertensivo para os felinos. No entanto, se considerarmos que a HAS pode determinar proteinúria, que é uma das únicas variáveis signifi cativamente associadas ao tempo de vida dos gatos nefropatas, o seu controle pode acarretar no retardo da progressão da DRC.
- Tratamento Antiproteinúrico
O controle de pressão arterial e a restrição proteica na dieta são variáveis importantes no tratamento de gatos com proteinúria renal. A inibição do SRAA com os IECAs e/ou BRAT1 s é considerada a terapia padrão para o controle da proteinúria, uma vez que controla a pressão arterial e a pressão intraglomerular.
Gatos persistentemente proteinúricos devem ser tratados com IECAs como benazepril (0,25-0,5 mg/kg, PO, cd 12-24h) ou BRAT1 s como a telmisartana (1-2 mg/kg, PO, cd 24h), muitas vezes associados com dieta terapêutica renal.
Gatos não azotêmicos (E I) e proteinúricos com UPC>1,0 recebem recomendação de dieta restrita em proteínas.
Monitorização (Follow Up)
O gato com DRC é um paciente crônico que requer reavaliações rotineiras e reajustes terapêuticos. Animais proteinúricos e hipertensos devem ser reavaliados com intervalos pequenos (1 a 3 semanas). No geral, recomenda-se:
- Pacientes não azotêmicos (E I): cada 6 meses
- Pacientes azotêmicos (E II - III): cada 2-4 meses
- Pacientes urêmicos (E III - E IV): 1 a 3 dias – semanal – mensal – cada 2 meses
Prognóstico
A DRC não tem cura. É uma condição autoperpetuante, progressiva e irreversível. O momento do diagnóstico, a nefroproteção e os ajustes terapêuticos individuais para cada paciente são variáveis importantes para a qualidade de vida e para o tempo de vida.
Sobre a Autora
MV, MSc Maria Alessandra Martins Del Barrio
- Médica-veterinária graduada pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP/SP, onde concluiu o Programa de Residência em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais e obteve título de Mestre em Clínica Veterinária
- Clínica autônoma com ênfase em Medicina Felina
- Professora das Disciplinas: Clínica e Doenças de Pequenos Animais na Faculdade de Medicina Veterinária da PUC - Poços de Caldas/MG
- Professora de vários cursos de especialização/aperfeiçoamento pelo Brasil
- Autora de capítulos de livros de Medicina Interna de Pequenos Animais, Infectologia, Medicina Felina, Odontologia Veterinária e Parasitologia
- Vencedora do Prêmio Veterinária do Ano de 2012, promovido pela Vetnil, no Congresso Brasileiro da ANCLIVEPA 2013
- Speaker veterinária
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